A maioria de nós se preocupa muito em ser eficiente, em adquirir as habilidades que serão valorizadas no mercado de trabalho, que trarão crescimento na carreira. Corremos atrás do que falta, mesmo que seja penoso (por exemplo aprender inglês, que é um enorme bloqueio pra muita gente). Investimos em MBAs caríssimos, tiramos certificados super desafiadores, mas não fazemos o mais simples. E o que seria mais efetivo, com custo zero.

Não cuidamos da nossa mente. Não conseguimos dedicar 10 minutos ao dia para cultivar uma mente ágil, focada, criativa, conectada. Nossa mente é um de nossos maiores instrumentos, é o filtro pelo qual vivemos todas nossas experiências.

Então por que tanto empenho em acumular conhecimentos e nenhum foco em aperfeiçoar o instrumento em si? Por que aceitamos com tanta facilidade nos sentir permanentemente apressados, desfocados e com insônia e nem ao menos tentamos uma prática que pode levar a um novo nível de serenidade, foco, presença?

Talvez simplesmente seja uma questão de descrença, de não acreditar nos benefícios da meditação. Mas penso que já passamos desse ponto, uma vez que existem inúmeros estudos científicos mostrando os efeitos comprovados de meditar tão pouco quanto 10 minutos diários. E protocolos de mindfulness já foram incluídos em tratamentos médicos em diversos países, abordando desde doenças mentais até a recuperação de ex-detentos.

Posso falar por mim mesma: há pelo menos 10 anos (quando comecei a ler Ken Wilber) já estava convencida dos benefícios e necessidade desses 10 minutos diários. E comecei a meditar naquela época? Não. Foi um processo aos trancos e barrancos que na verdade só estabilizou porque meditar todos os dias fazia parte do método de coaching no qual eu me formei (coaching integral). E mesmo assim atingir um hábito realmente diário ocorreu depois de muita resistência.

Por que não meditamos?

Por que isso acontece? Por que meditar traz tanto desconforto, medo, e fugimos desse silêncio? Não acredito que seja uma questão só de autocontrole, porque nos acostumamos a fazer coisas incrivelmente mais difíceis e chatas. Na vida somos constantemente jogados a um novo nível no qual temos que lidar com o desconforto e fazer coisas que antes pareciam impossíveis.

Eu vejo a mudança de hábitos em relação a atividades físicas e alimentação. Vejo as pessoas fazendo um esforço enorme para praticar exercícios regularmente, para comer melhor, para criar um estilo de vida saudável. Então qual a dificuldade de sentar por 10 minutos em silêncio?

Minha hipótese: porque vamos nos deparar com tudo de que passamos a vida inteira fugindo. Todos os medos, ansiedades, temores mais profundos, verdades que não conseguimos encarar, anseios, desejos não atendidos, sonhos abandonados, culpas, julgamentos, esse mundo interno de coisas que me dão um nó no estomago só de mencionar.

O silêncio… o espaço.

Foto de Pawel Nolbert no Unsplash

Não é incomum ver pessoas que não conseguem ficar desocupadas nem por um minuto e que vão inventar qualquer atividade, por cansativa e banal que seja, para preencher o espaço. Sempre lembro de um amigo me falando no fim da faculdade: “preciso achar um emprego logo porque não consigo estar sozinho com meus pensamentos”.

E não se trata de ser introvertido ou extrovertido. Eu sou super introvertida, sempre gostei de ter meu tempo sozinha, pra ler, ver um filme ou ouvir música e pensar na vida, mas tenho tanta resistência ao silêncio quanto qualquer pessoa.

Lembro de lampejos, desde pequena, de momentos em que tudo ficava em silêncio e eu de repente me deparava com esse vazio: talvez em um dia chuvoso, ou no primeiro dia de férias, ou no fim de uma semana de provas. Era possível perceber a angústia que surge à medida que o mundo externo silencia e você se depara com uma realidade interior da qual não estava consciente no meio de todo barulho usual.

Claro que eu não tinha vocabulário para tudo isso, mas lembro da sensação física dessa angústia existencial, essa sensação de “o que eu estou fazendo aqui”? E a constatação incrédula de que as provas pareciam menos incômodas do que o silencio que as seguia. Estar sozinho com as profundezas da sua mente pode ser o que há de mais assustador.

Por isso a maioria de nós passa a vida fugindo desse mundo interno sem nem perceber. É muito fácil encontrar com o que se ocupar e estar sempre atarefado correndo de um lado para o outro. Coisas a fazer nunca vão faltar. Mas ao seguir nesse ritmo ininterrupto vamos ficando cada vez mais desconectados, desfocados, agitados, estressados. E cada vez mais alheios ao que realmente importa para nós, nossos maiores sonhos, medos, o que nos move de verdade.

Encarar a si mesmo

Mas e se você pudesse abrir todas as portas e olhar debaixo da cama, dentro do armário, atrás da cortina? Se pudesse encarar qualquer monstro escondido, qualquer sonho abandonado? Consegue sentir a liberdade, leveza e poder que isso tem? Não se trata de uma utopia e sim de trabalho duro e ao mesmo tempo incrivelmente gratificante e liberador. O trabalho de encarar a si mesmo de frente, de olhos abertos e estar disposto a lidar com o que estiver refletido no espelho.

Você não tem curiosidade sobre tudo que você pode ser? De permitir-se abrir esse espaço interno e se livrar de todo entulho mental, de todo esforço que faz para fugir do que está o tempo todo dentro de você?

Por isso faço um convite para você hoje: um desafio para que medite todos os dias, por 10 minutos, durante a próxima semana.

Se nunca meditou, existem inúmeros aplicativos com meditações guiadas, guias gratuitos e vídeos explicativos. Faça o que precisar fazer, mas sente-se em silêncio todos os dias por 10 minutos. Registre diariamente o que sentiu ou percebeu de diferente ao longo do dia. Encare o desconforto inicial desse silêncio, seja curioso. Esse pode ser o início de um caminho de incríveis descobertas e potenciais.