A ansiedade é um problema onipresente hoje em dia, que parece vir de mãos dadas com a velocidade em que vivemos.
Ela aparece de várias formas e níveis de intensidade, desde o tipo avassalador que causa insônia e paralisa, até aquele friozinho na barriga acompanhado de pensamentos repetitivos sobre tudo que poderia dar errado: “e se…?, e se…? e se…?”.
A ansiedade prospera nessa realidade acelerada onde precisamos nos atualizar a cada momento e dar conta de maneira eficiente de todas as bolas que mantemos no ar em um malabarismo constante.
Na minha história, a ansiedade mais incômoda sempre foi aquela que aparecia na véspera de eventos importantes, impulsionada pelo medo de falar em público: começou com apresentações na faculdade, depois defesas no mestrado e me acompanhou em palestras maiores, treinamentos, workshops.
Não importava quanta experiência eu acumulasse, quantas vezes treinasse. Ela sempre estava ali, fazendo meu coração bater mais rápido, minha respiração ficar curta e minha voz sair baixa e trêmula. Isso contaminava os primeiros 5 minutos de todas minhas apresentações. Depois desses momentos iniciais (que pareciam durar para sempre) eu conseguia me acalmar, respirar e tudo dava certo.
Mas a sensação de perder o controle do corpo e ser tomada pelo medo é realmente aterrorizante e, no meu caso, me trazia uma enorme sensação de fracasso. Eu imaginava que um dia ia acabar tendo aqueles episódios de travar, ter um branco e ter que sair do palco humilhada.
Por causa disso li muito sobre como lidar com a ansiedade, tentei algumas técnicas, fiz terapia, mas confesso que o resultado foi muito leve, infelizmente não foi páreo para minha insônia pré-apresentação.
Parecia um daqueles problemas com o qual você simplesmente tem que conviver, é assim mesmo, acostuma a não dormir na véspera de nada que seja importante ou toma um remedinho que funciona. Mal sabia eu que a solução viria naturalmente de uma fonte completamente inesperada.
E a inteligência do seu corpo?
Nesse meio tempo comecei minha formação na Integral Coaching Canadá (https://www.integralcoachingcanada.com) e passei a entender cada vez mais a importância de trabalhar o corpo e usar essa inteligência somática que normalmente deixamos de escanteio. Percebo que nós, como sociedade, damos uma importância enorme à inteligência cognitiva e tendemos a ignorar todo o resto. Parece que somos uma cabeça flutuante, o corpo é só algo que carregamos por aí.
Na teoria integral leva-se em conta diversos tipos de inteligência (além da cognitiva) e no coaching integral trabalhamos pelo menos 6 inteligências diferentes, dando mais ou menos ênfase à cada uma delas de acordo com o tema em questão.
Nesse processo de aprendizado, percebi que a minha inteligência somática (do corpo) era uma das áreas que eu mais precisava trabalhar. Não só no sentido de praticar atividades físicas, mas de perceber o que meu corpo estava me falando, e como essa consciência podia me ajudar.
Passei então a conhecer com muito mais clareza a relação entre a minha postura, minha respiração, e meu estado interno. Ficou muito perceptível que nos momentos em que me sinto inadequada ou insegura meus ombros se curvam, minha cabeça abaixa, eu me retraio.
Com essa consciência ficou mais fácil flagrar esses momentos de retração e perceber que mesmo me sentindo ainda inadequada e insegura, eu podia simplesmente mudar minha postura. Abrir os ombros, sentir os pés firmes no chão, reencontrar o meu eixo. A respiração naturalmente se expande e aprofunda. O coração se acalma. E algo incrível acontece: de repente você está ali, por inteiro. Não mais encolhida; mas presente, sólida.
Ao ajustar o meu corpo, o estado interno mudava. E inesperadamente consegui o que com todas técnicas de reformular pensamentos não fui capaz de fazer: encontrei o caminho para estar calma, presente, confiante, mesmo nos momentos mais assustadores.
Como lidar com a ansiedade
Isso pode parecer um caso isolado, mas eu estava esbarrando em uma verdade muito profunda sem na época ter noção da base científica de tudo isso.
Já é senso comum aceitar que a mente influencia o corpo (pense por exemplo em efeitos placebo ou doenças psicossomáticas). Mas a outra via também existe e é muito poderosa. Diversos estudos comprovam que essa é uma via de mão dupla: a mente influencia o corpo e o corpo influencia a mente.
Pesquisadores mostram como ao fazer certas expressões faciais, respirar de uma maneira diferente ou mudar a postura, é possível alterar o seu estado mental e emocional. Veja os estudos de Amy Cuddy por exemplo, sobre o efeito hormonal de posturas poderosas, ou inúmeros trabalhos sobre o poder da respiração (e do diafragma) para criar um estado de confiança.
A conclusão de tudo isso é que uma maneira efetiva de sair da ansiedade e se manter realmente presente (calmo, focado, respirando normalmente, pensando com clareza) é através do corpo. Parece tão óbvio, né?
Mas a maioria das soluções para ansiedade ainda se foca exclusivamente na mente, em modificar pensamentos, reformatar crenças e etc.
Depois de anos tentando “domar” minha mente, percebi que ao olhar para o corpo e conectar-se com ele conscientemente a ansiedade se assenta, o coração se acalma e é possível permanecer presente mesmo em momentos mais difíceis.
Por isso, se você sofre com sua ansiedade e já se sentiu tomado por um coração acelerado, respiração curta e pensamentos confusos no pior momento possível, tente um pequeno exercício da próxima vez que se sentir assim: respire fundo, sinta seus pés no chão, abra o peito, relaxe os ombros, e mantenha essa postura por alguns minutos. Isso pode ser o começo de uma nova relação com a sua ansiedade e da construção de um estado real de confiança e relaxamento.